Tradução e Resumo: Clay and Glazes for the Potter (Parte 1)

Tradução e Resumo do livro Clay and Glazes for the Potter de Daniel Rhodes, indispensável para qualquer ceramista e, infelizmente, sem tradução para o português.


PREFÁCIO

A técnica da cerâmica tem um potencial enorme – capaz de grande beleza de formas, cores e texturas. Ela é única não só pela variedade de resultados, mas pela durabilidade e utilidade também. Mas para poder lidar plenamente com o material, o ceramista deve ter, além da criatividade, um extenso conhecimento técnico da cerâmica.
O presente trabalho pretende possibilitar que o artista experimente com a cerâmica de forma inteligente e com o mínimo de perdas possível. O conhecimento técnico é um pré-requisito necessário para a realização de escolhas livres e criativas em cerâmica.

PARTE 1: ARGILA

A argila é um material simples – é abundante, barato, de fácil aquisição e preparo. Mas é também temperamental – sua plasticidade varia muito, e argilas boas para uma coisa, não funcionam para outra.
As maiores dificuldades em se fazer cerâmica ocorrem devido ao grande numero de variáveis (por exemplo, a argila encolhe quando seca e ainda mais quando é queimada) – para driblar esse problema, o ceramista precisa entender os princípios que governam o comportamento desses materiais brutos.
A argila é um dos poucos materiais que não tem valor por si só, mas que pode ser transformada em objetos valiosos.
Na cerâmica, encontramos uma conexão com antigas tradições culturais, já que ela representa uma das mais fundamentais atividades humanas, preenchendo profundas necessidades nossas, sejam elas práticas ou espirituais.
Cerâmica pode ser definida como a arte de fazer belos e/ou úteis objetos permanentes através do aquecimento de materiais brutos da terra.

CAPÍTULO 1 – ORIGENS GEOLÓGICAS DA ARGILA 

Argila é o produto do intemperismo geológico na camada superficial da Terra, um processo natural e contínuo que resulta na abundância desse recurso. 
Em tempos geológicos remotos, a Terra era apenas uma grande massa de material fundido, e sua crosta atual é apenas uma fina camada congelada desse material que recobre um interior ainda extremamente quente. 
75% da crosta da Terra é composta por Sílica/Dióxido de Silício (SiO2) e Alumina/Óxido de Alumínio (Al2O3). Esses dois óxidos são os elementos essenciais da argila. 
O mineral mais comum na Terra é o Feldspato (60%), também responsável pela argila. 
Um dos resultados do intemperismo e erosão das rochas, principalmente pela água, é justamente a argila, que se forma em deltas e estuários de rios e eventualmente seca em terra firme. 

CAPÍTULO 2 – COMPOSIÇÃO QUÍMICA DA ARGILA

 A composição da argila comum vermelha é similar à da crosta da Terra: mais de 50% de Sílica, mais de 15% de Alumina e 6% de Ferro. Argilas mais puras tendem a ter muito menos Ferro e mais Alumina, mas ainda são, em geral, similares à crosta da Terra. A presença de qualquer óxido que não Alumina ou Sílica é considerada uma impureza da argila. 
Ela é formada no processo de hidrólise, portanto, apresenta também água em sua composição.
A argila diferencia-se das pedras mais pelo seu aspecto físico do que pela composição química. Diferentes rochas originárias resultam em argilas ligeiramente diferentes. Considerada um mineral, a fórmula da argila é:
Al2O3 + 2 SiO2 + 2 H2O 
No entanto, esta fórmula representa apenas a mais pura das argilas (Caulinita) e, na realidade, a maioria das argilas utilizadas em cerâmica apresentam fórmulas mais complexas, devido a suas diversas impurezas. 
O processo de transformação do mineral Feldspato em argila através da hidratação chega a demorar milhões de anos e não pode ser reproduzido em laboratório. 
O ponto de fusão da argila costuma ser muito alto. Mesmo as do tipo mais comum só queimam a temperaturas acima de 1000ºC, devido às propriedades químicas dos óxidos que as compõem. 

 CAPÍTULO 3 – NATUREZA FÍSICA DA ARGILA

 Acredita-se que as propriedades elásticas da argila provém do minúsculo tamanho dos cristais de pedra que a compõe (chegam a ter menos de 1 milésimo de milímetro), que são chatos e alongados. 
Misturados a esses finos grãos, encontramos outros pedaços maiores que podem ser Feldspatos ou Quartzos, ou outros materiais incorporados à argila durante o processo de transporte e sedimentação. 
Normalmente, certo número de partículas orgânicas também está presente. Embora essas partículas desapareçam na queima, elas são importantes por incorporar carbono à argila. 
In natura, a argila pode assemelhar-se a uma pedra, mas, exposta ao tempo, ela transforma-se em uma massa mole e quebradiça. 
Uma vez adicionada água em quantidades certas, a argila adquirirá qualquer forma que o artista lhe impuser – característica denominada plasticidade. A fineza dos cristais, a água que os envolve, a atração química entre partículas e o material carbônico contribuem para essa qualidade. Quando se permite à argila envelhecer um pouco (dias ou anos), ela torna-se mais plástica. A adesão de pedaços de argila previamente envelhecidos à argila nova também acelera o processo de maleabilidade do material. Tudo isso devido à ação de bactérias que produzem matéria orgânica e à humidade cada vez maior que penetra nas partículas. 
Argilas primárias ou residuais: formadas e encontradas no local de suas rochas originárias. Esse tipo é raro porque as argilas costumam ser transportadas pela água. Elas são menos plásticas, mas mais puras e brancas (ex. Caulinita). 
Argilas secundárias ou transportadas: transportadas de seu local de formação até outros locais pela água (mais comum), vento ou geleiras. Esse tipo é o mais comum. Nos fundos de rios e lagos encontramos argila (ou barro) originária de várias rochas diferentes que se juntaram no processo de sedimentação. Elas possuem grãos finos e são bastante maleáveis, com cores avermelhadas devido às impurezas que possuem (como o Ferro). 

CAPÍTULO 4 – SECANDO E QUEIMANDO ARGILA 

 A descoberta de que a argila, quando queimada, transforma-se em um material duro e resistente é tida como uma das mais importantes invenções antigas. A vida privada do homem primitivo foi imensamente enriquecida com a invenção de potes e de objetos ritualísticos de cerâmica. 
Quando argila plástica seca, ela encolhe em 5% (algumas mais plásticas chegam a 8%). Isso acontece porque, para se tornar maleável, a quantidade de água que se deve juntar à argila é muito grande: cerca de ¼ do total da massa deve ser composta por água. Quando a humidade ambiente está menor que 100%, a água da argila começa a evaporar e ela começa a secar e endurecer. O espaço anteriormente ocupado pela água líquida fica vazio e as partículas de argila são atraídas umas pelas outras, o que resulta no encolhimento da peça. Argilas com grãos mais finos encolhem mais porque possuem mais água envolvendo cada partícula. Quando todos os grãos de argila estão em contato direto com os demais, o encolhimento da secagem está completo e a peça encontra-se no ponto de couro
Para evitar deformações e rachaduras, a peça de argila deve ser secada lenta e igualmente. Peças não devem ser secadas ao Sol ou com apenas um dos lados em contato com o ar. 
Qualquer partícula não plástica ajuda a evitar o processo de encolhimento da argila seca. Argilas compostas por muitas dessas partículas são chamadas de “corpo-aberto”. Chamotte ou Resíduo Cerâmico Queimado (argila já queimada e quebrada em pedaços pequenos) ou pequenas pedras podem ser acrescentados à argila para diminuir o encolhimento, uma vez que esses materiais não apresentam variação de tamanho quando molhados. 
A umidade ambiente raramente será de 0%, por isso, a secagem da argila é sempre feita em fornos, com a temperatura subindo lenta e gradualmente até 100ºC (temperatura de ebulição da água). Se a queima for realizada abruptamente, o vapor preso dentro da argila irá se expandir e a peça irá explodir. 
Através da queima, as propriedades físicas e químicas da argila se alteram. Argila queimada é um material virtualmente indestrutível – embora ela poça se quebrar, seus pedaços continuarão intactos mesmo em contato com fogo ou água. 
Ao chegar em 350ºC, a água quimicamente misturada à argila, que faz parte de sua estrutura molecular (diferente da água apenas fisicamente combinada a ela), começa a se desprender em um processo de desidratação. 14% do peso de toda argila é composto por essas partículas de águas quimicamente ligadas à Alumina e à Sílica. 
Aos 500ºC, a argila está completamente desidratada e não irá mais desintegrar-se em contato com a água. Ela terá perdido toda a sua plasticidade através de um processo químico irreversível. Nesse ponto, não ocorre encolhimento da peça, mas ela encontra-se bastante frágil. 
Até os 900ºC, ocorre também o processo químico de oxidação, a decomposição de todos os componentes que não são óxidos (como matéria orgânica, carbonatos e sulfatos). A presença de oxigênio dentro do forno é imprescindível para esse processo. Caso o oxigênio seja insuficiente ou a queima decorra rápido demais, particular de carbono podem restar na peça, o que acaba por causar manchar pretas ou descoloridas e inchaço na cerâmica. 
Todas as argilas contêm um pouco de cristais de Quartzo que, a 573ºC sofrem uma alteração química e passam da forma alpha para a beta, o que resulta no aumento do volume da peça em cerca de 2%. Ao resfriar, o Quartzo beta retorna para sua forma alpha e a peça decresce em 2%. Ou seja, se o aquecimento e o resfriamento forem feitos lenta e igualmente, a peça não sofrerá distorções devido ao Quartzo. 
Por fim, ocorre a vitrificação: endurecimento, ajuste e vitralização da argila. É esse processo que confere à argila sua durabilidade, densidade e dureza de pedra. Novamente, a argila encolhe. Todas as diminuições de volume ao longo da secagem e da queima chegam a totalizar 10% da peça. 
Como a argila é composta por diferentes substâncias, cada uma delas apresenta um ponto de fusão diferente e, portanto, a peça de cerâmica irá queimar gradualmente, até o ponto em que se torna líquida e resfria-se como vidro. Obviamente, a queima deve ser interrompida antes desse ponto (no entanto, na queima de porcelana, a fusão completa deve ser atingida – podemos observar a semelhança da porcelana com o vidro). A argila vermelha comum queima a 1000ºC e derrete a 1250ºC. Uma Caulina pura, porém, só derrete à 1800ºC. 
Queimar cerâmica à temperatura e tempos ideais é uma arte delicada e chama-se maturação

 CAPÍTULO 5 – TIPOS DE ARGILA

 • Caulina ou Argila da China: relativamente escarça na natureza, mas muito almejada por criar porcelanas puras e brancas. Possui poucas impurezas, pouca plasticidade e sua temperatura de fusão é muito elevada. Mais comum na China. 

• Ball Clay: termo geral que define toda argila que queima a baixas temperaturas e tem grande plasticidade. Quase como o oposto da Caulina, a Ball Clay possui mais Ferro e matéria orgânica (mas poucas impurezas além dessas), é bem plástica e sua temperatura de fusão é menor. Quando queimada, torna-se cinza-claro ou amarelo-claro. No entanto, ela é impossível de se utilizar sozinha, pois encolhe em até 20% quando queimada. São muito usadas misturadas com outras argilas. Não se deve misturar mais de 15% de massa de Ball Clay na Caulina se o resultado desejado é uma cor branca pura. 

• Fire Clay ou Argila Refratária: termo que define toda argila que tenha um alto ponto de fusão (maior que 1500ºC). A plasticidade e a cor podem variar. Costuma ser usada em objetos que entram em contato com o fogo: tijolos, fornos, fornalhas, potes de queima etc. 

• Sagger Clay ou Mufla: caixas de argila que servem para proteger as peças da queima direta. Possuem bastante plasticidade e alto ponto de fusão. 

• Stoneware Clay ou Argila Grês: termo para argilas plásticas que maturam entre 1200ºC e 1300ºC. Sua coloração, uma vez queimadas, varia de cinza-claro a cinzas e marrons mais escuros. 

• Argila Comum ou Barro: denominação aplicável a maior parte das argilas encontradas na natureza. Esse tipo de argila costuma ser bastante plástica e conter muito ferro e outras impurezas minerais, o que faz com que sua temperatura de maturação seja entre 950ºC e 1100ºC. Após queimada, a argila pode adquirir uma coloração creme, rosa, avermelhada, marrom ou até preta. 

• Adobe: argila crua secada no Sol. Pouco plástica e com bastante areia. 

• Flint ou Argila Calcinada ou Quartzo: Argila com ponto de fusão alto que foi compactada até tornar-se densa e dura. 

• Shale ou Xisto Argiloso: rocha metamórfica formada por argilas sedimentares. Apresenta muito pouca plasticidade. Usada para tijolos e materiais pesados. 

• Bentonita: argila de origem vulcânica. Muito usada para conferir plasticidade à outros tipos de argila. Não pode ser usada sozinha devido à sua tendência a inchar quando molhada, ser muito pegajosa e encolher muito quando seca. 

• Terracota ou Argila Vermelha: um tipo de argila refratária muito usada para a produção de cerâmicas de grande porte por secar rápida e igualmente. 

• Argilas com Alto Teor de Alumina (Bauxita, Diaspore): argilas que apresentam grande quantidade de Alumina. Podem ser usadas como matéria-prima para a produção de alumínio. 

• Gumbo ou Lama: tipo de argila superficial que é bastante plástica e pegajosa, por conter muita matéria orgânica.






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