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Mostrando postagens de junho, 2016

Reflexão: Paragone e Autonomia das Artes

O paragone das artes é uma discussão antiga, que recebeu muita atenção no período do Renascimento. Para o pintor Giorgio Vasari, em 1550, a resolução desta disputa não estava na pintura, ou na escultura, mas sim no disegno . Traduzindo a palavra para o português como desenho, fica difícil compreender o que Vasari quis dizer – a primeira vista, parece-nos que ele simplesmente elegeu o risco de carvão sobre papel como a melhor das artes. Mas essa definição é demasiado pobre para o significado que o termo tem em Vasari. As primeiras palavras de seu texto O Primado do Desenho já demonstram isso: o disegno seria “oriundo do intelecto”, ou seja, seria um conceito . Mas não somente isso; ele seria “o pai de todas as artes” justamente por ser a primeira instância na qual esse conceito é materializado – o que chamaríamos hoje de esboço . Partindo dele, o artista poderia escolher qualquer meio para finalizar sua obra: um desenho a carvão poderá dar origem a um quadro a óleo; uma modelagem em...

Reflexão: A Crise no Renascimento

O Renascimento é tradicionalmente descrito através da suposta imitação da natureza e do retorno aos clássicos realizados por seus artistas. De fato, durante os anos 1400, teóricos e artistas como Alberti e Brunelleschi almejavam uma arte que possuísse ambos esses aspectos. A formulação da perspectiva seria o mais perfeito fruto dessa ambição: um sistema de regras matemáticas que ordena o mundo de forma racional e necessária, compreendendo e organizando a realidade. Esses artistas, então, representam o mundo natural através de uma formulação geométrica, o que resulta em uma natureza idealizada e, portanto, perfeitamente harmônica e equilibrada, eminentemente estética, como desejavam os antigos clássicos. O problema com essa definição de Renascimento acontece quando nos deparamos com artistas que parecem não só ignorar essas diretrizes, como verdadeiramente colidir com elas. Observando a obra de Leonardo da Vinci, por exemplo, é inconcebível pensar que sua arte seguisse qualquer fo...