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Mostrando postagens de 2016

Resenha: Pedagogia da Autonomia (Paulo Freire, 1996)

    Em seu livro Pedagogia da Autonomia (1996), Paulo Freire pretende delinear saberes e práticas que considera indispensáveis a educadores críticos, progressistas, éticos e humanos, desafiando a atual e estrita compreensão do senso-comum do que seja educação e do que seja aprender. Ensinar, verdadeiramente, não é transferir conhecimento, mas criar a possiblidade nos educandos de construir esse conhecimento. Docência e discência não são objetos um do outro, e sim partes integralmente componentes da experiência do ensinar e do aprender, num processo que Freire denomina como “dodiscência”. Aprender sempre precede o ensinar, e a pratica de ensinar-aprender é uma experiência total, diretiva, politica, ideológica, gnosiológica, pedagógica, estética e ética.   1.       A CURIOSIDADE A primeira qualidade essencial que o professor e o aluno devem ter é a curiosidade. A curiosidade do aluno, primeiramente ingênua, deve, através da escola, critici...

Técnicas da Pintura no Século XX

ACRÍLICA A tinta acrílica é composta por pigmentos aglutinados com cola plástica ou resina sintética acrílica. Seca rapidamente e possui uma enorme gama de possibilidades estéticas: pode tanto ser diluída para um conseguir um efeito transparente e brilhante, aproximando-se de um visual aquarelado, quanto concentrada até obter um aspecto denso e pastoso, mais similar às tintas a óleo. Inúmeros aditivos podem ser misturados à tinta, a fim de conseguir resultados variados. Outro aspecto extremamente importante para a popularização da tinta acrílica é o fato de aderir a inúmeras superfícies com facilidade: tecidos, papel, madeira etc. Além disso, ela faz menos mal à saúde do que tintas a óleo, porque usa água como solvente. Compostos acrílicos começaram a ser sintetizados na metade do século XIX e, na década de 1910, o químico alemão Otto Röhm sintetizou uma tinta com aglutinante acrílico. Essas primeiras tintas acrílicas serviam principalmente para pintura da parede das casas e para...

Reflexão: Paragone e Autonomia das Artes

O paragone das artes é uma discussão antiga, que recebeu muita atenção no período do Renascimento. Para o pintor Giorgio Vasari, em 1550, a resolução desta disputa não estava na pintura, ou na escultura, mas sim no disegno . Traduzindo a palavra para o português como desenho, fica difícil compreender o que Vasari quis dizer – a primeira vista, parece-nos que ele simplesmente elegeu o risco de carvão sobre papel como a melhor das artes. Mas essa definição é demasiado pobre para o significado que o termo tem em Vasari. As primeiras palavras de seu texto O Primado do Desenho já demonstram isso: o disegno seria “oriundo do intelecto”, ou seja, seria um conceito . Mas não somente isso; ele seria “o pai de todas as artes” justamente por ser a primeira instância na qual esse conceito é materializado – o que chamaríamos hoje de esboço . Partindo dele, o artista poderia escolher qualquer meio para finalizar sua obra: um desenho a carvão poderá dar origem a um quadro a óleo; uma modelagem em...

Reflexão: A Crise no Renascimento

O Renascimento é tradicionalmente descrito através da suposta imitação da natureza e do retorno aos clássicos realizados por seus artistas. De fato, durante os anos 1400, teóricos e artistas como Alberti e Brunelleschi almejavam uma arte que possuísse ambos esses aspectos. A formulação da perspectiva seria o mais perfeito fruto dessa ambição: um sistema de regras matemáticas que ordena o mundo de forma racional e necessária, compreendendo e organizando a realidade. Esses artistas, então, representam o mundo natural através de uma formulação geométrica, o que resulta em uma natureza idealizada e, portanto, perfeitamente harmônica e equilibrada, eminentemente estética, como desejavam os antigos clássicos. O problema com essa definição de Renascimento acontece quando nos deparamos com artistas que parecem não só ignorar essas diretrizes, como verdadeiramente colidir com elas. Observando a obra de Leonardo da Vinci, por exemplo, é inconcebível pensar que sua arte seguisse qualquer fo...

Reflexão: Manifesto dos Pioneiros da Educação Nova (1931)

            O Manifesto dos Pioneiros da Educação Nova foi escrito em 1931, mas os problemas e soluções apresentados em seu texto continuam extremamente atuais. A intersecção entre os temas tratados nele e os discutidos em nossas aulas de POEB são inúmeras.             O Manifesto inicia por dizer que, de todos os problemas nacionais, a educação é o mais importante e o mais grave – ela é a base das gerações futuras de um povo que, por sua vez, graças a ela terão condições de resolver os demais problemas do país. No entanto, a organização escolar do Brasil em 1932 (e, não muito diferentemente, hoje) era incapaz de lidar com as “necessidades modernas e necessidades do país”, principalmente porque o sistema educacional encontrava-se fragmentado e desarticulado. Todas as propostas de reforma do ensino até a publicação do Manifesto eram parciais, isoladas, sem uma visão global do...